quarta-feira, 31 de março de 2010

FOGUEIRA SEM VAIDADE

É triste ver todo um trabalho sendo jogado fora. Persegui, torturei e expulsei milhares de judeus, muçulmanos e homossexuais da Península Ibérica. Queimei em praça pública centenas de hereges que se recusavam a abandonar seu credo nos chamados Autos-de-Fé, movidos a lenha. Cheguei a receber a alcunha de Torqueimada, apelido que sempre adorei. Tudo em nome de preservar a fé católica e sua doutrina. A Inquisição foi mesmo um show, além de arrecadar um bom dinheiro para os Reis, conseguimos colocar um pouco de terror em quem andasse fora da linha.

Agora explodem escândalos envolvendo membros da Igreja em diversos países. Dois informes dão conta de que, só na Irlanda, mais de 15 mil crianças e adolescentes foram vítimas de abusos físicos e sexuais nos últimos 60 anos. Nos Estados Unidos, um padre é acusado de ter molestado 200 meninos surdos ao longo de 20 anos. Há ondas de denúncias semelhantes no Brasil, Holanda, Suíça e Áustria. Na Alemanha, até o irmão do papa, Georg Ratzinger, conhecido também pelos meninos do coro da catedral de Regensburgo como Bicho-Papão, admitiu ter dado tabefes no rosto das crianças como punição. O Vaticano está sendo acusado de acobertar todos esses escândalos. Isso não é verdade. O que está acontecendo é que tem tanta gente da Igreja envolvida que faltam quadros internos. Não há gente com ficha limpa suficiente para julgar todos os acusados.

Talvez a origem de toda essa confusão seja a exigência do celibato. Eu sempre digo que o problema do voto de castidade é que ele é secreto.

As regras que nós mesmos inventamos também não ajudam a melhorar nossa imagem e conter o rebanho. Se um padre pedóflilo cometer seus crimes usando camisinha estará pecando duas vezes. É difícil o pessoal nos entender. Sem falar que a opinião pública não aceita esse tipo de delito nem quando o acusado é um astro pop querido das multidões, como Michael Jackson. No caso dele, ainda havia o atenuante de não ter submetido suas vítimas aos cantos gregorianos.

O resumo é que do jeito que a coisa está, nem Deus nos ajuda. Se a Igreja quiser voltar a ter alguma credibilidade, precisamos de punições exemplares e espetaculosas. É uma pena que o regime democrático vigente nos países onde os escândalos vêm ocorrendo não permita imolações em praça pública. Seria ótimo sacrificar alguns safados na fogueira. Já pensou? Poderíamos até aproveitar as próximas festas de São João num grande evento do tipo dois em um. O que não podemos é ficar inertes, sem dar satisfação aos fiéis e à sociedade. Do contrário, é a Igreja que vai sair queimada.